Texto quer ampliar proteção para a Bacia do Alto Paraguai na legislação recém sancionada pela Presidência da República
O Rio Paraguai cruzando o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, no Mato Grosso. Foto: Zig Koch
“A principal motivação é garantir que a legislação federal contemple e resguarde os avanços já acordados em legislações estaduais”, disse a parlamentar. No Mato Grosso do Sul, uma lei protetora do bioma está em vigor desde dezembro de 2023, noticiou ((o))eco.
Um destaque do texto proposto por Jara é integrar planalto e planície nas regras de conservação, abarcando quando indispensável toda a Bacia do Alto Paraguai. Este é um ponto celebrado por especialistas como Débora Calheiros, doutora em Ciências pela USP, pesquisadora da Embrapa e assessora do MPF.
Segundo ela, proteger apenas a parte baixa do Pantanal – sem considerar o planalto ao redor, onde estão as nascentes –, seria como enxugar gelo. “A integridade do bioma depende de manter seu regime hídrico, que nasce no planalto”, explicou.
O texto também barra licenças para desmate quando houver passivos ambientais, incluindo freios bem diretos: fica proibido autorizar corte ou supressão quando uma fazenda foi autuada por descumprir as normas ambientais nos últimos três anos.

No uso da terra, o projeto leva à lei federal as métricas de áreas a serem protegidas pactuadas em leis estaduais e detalha formações típicas do Pantanal, como meandros abandonados de rios, landis, salinas, entorno de baías e lagoas, capões, cordilheiras e murundus.
A proposta cria um programa para azeitar a regularização do passivo de Reserva Legal de fazendas, com compensação na própria Bacia do Alto Paraguai. A ideia pode até ajudar a formar corredores ecológicos.
Outra inovação é apontar diretrizes socioeconômicas para o bioma, como turismo sustentável e de base comunitária, compensações de grandes obras para regularizar terras indígenas ou de unidades de conservação.
Conforme Jara, o Estatuto é uma base de proteção que o Pantanal esperou por décadas. “Fizemos história, e agora vamos consolidar o avanço: regras claras para toda a Bacia do Alto Paraguai, tolerância zero com o desmate ilegal e mais oportunidades de renda sustentável para quem vive no bioma”, disse.
“Defender o Pantanal é defender a água, o clima e a vida. É o Brasil escolhendo desenvolvimento com nossos biomas em pé, hoje, amanhã e para quem vem depois”, avaliou a parlamentar.

Outras ameaças pedem atenção
A proposta legislativa da deputada federal Jara ganha força após a sanção presidencial do estatuto, com vetos, da nova lei federal do Pantanal, publicada em 1º de outubro.
O sancionado tem diretrizes para proteger, restaurar e usar o bioma de forma menos destrutiva e reforça a economia do turismo, mas teve cortado quase todo o capítulo sobre o manejo do fogo. Segundo o governo, já há uma política nacional sobre o tema.
No Mato Grosso do Sul, o governo considerou a sanção um marco que reafirma leis estaduais e ajuda a encerrar – no Supremo – a ação que cobrava uma norma federal específica para o bioma.
Ao mesmo tempo, Débora Calheiros alerta que a implantação da hidrovia Paraguai–Paraná e a expansão de hidrelétricas no planalto ameaçam o Pantanal – riscos agravados pela não implantação e defasagem científica do plano de águas da Bacia do Alto Paraguai. “O Estatuto e o projeto de lei são omissos nestes pontos”, avaliou.
A proposta legislativa de Jara deve tramitar pelas comissões de Meio Ambiente, Minas e Energia, e Constituição e Justiça da Câmara, mas há articulação de partidos tentando sua votação em regime de urgência.
Aldem Bourscheit
Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron… →