Nova campanha disseminando narrativas sobre os perigos do fogo, me fez lembrar de conversa sobre incêndios com o Mestre Professor Arnildo Pott, onde compartilhamos antigas lembranças de episódios pretéritos ocorridos em Mato Grosso.
No final dos anos 90, estávamos em Cuiabá, no lançamento do Projeto SESC Pantanal, onde fiz parte com outros corumbaenses que se deslocaram em grupo para lá, comandados pelo então Presidente do Sindicato Rural de Corumbá, saudoso companheiro Luís Alberto Vitório.
Na cerimônia, por coincidência, sentei-me ao lado do poconeano Zelito Dorileo, e assistimos juntos a um documentário institucional, que mostrava fazendas ativas adquiridas com verbas do Sistema S, depois o gado saindo em sucessivas boiadas, currais, cercas e casas sendo desmontadas e, finalmente, os tratores arrasando com as alvenarias remanescentes.
Havia numeroso grupo que aplaudia, em êxtase frenético, as partes mais candentes das cenas de destruição, terminado o evento, indaguei do meu parceiro pantaneiro, visivelmente desconfortável com a coisa toda, o que achara do projeto.
Do alto de sua sabedoria vaqueana, rememorou rapidamente fazendas e proprietários, calculando o rebanho estimado retirado, profetizou: “-No segundo pulso de seca a partir de agora, vai queimar tudo. Até a copa das árvores!”
Neste ponto do diálogo o Professor Pott contou-me algo com extrema semelhança: Representando o CPAP Embrapa Pantanal fora convidado a participar do 1° Conselho do tal projeto SESC Pantanal.
Na reunião inaugural, contestou com veemência, a metodologia empregada inicialmente, de retirada de todo o gado, contraditado por todos os outros participantes que expressaram sua confiança num plano de segurança infalível, enumerando todos os recursos financeiros, humanos e de máquinas disponíveis.
O ponto fulcral era que, tinham certeza que com os campos livres do gado, estes virariam mata… Humildemente, o Professor Pott, marcou sua ruptura definitiva com o projeto, afirmando: “- No Pantanal não vai virar nem mata nem floresta e sim um grande incêndio.”
Suas pesquisas já haviam comprovado o axioma, que todos deveriam tentar conhecer: “- O boi é o bombeiro do Pantanal.”
Nem profecia nem maldição, simplesmente a ciência não engajada, referendando séculos de experiência no Pantanal acumulados no venerando Zelito Dorileo, finalmente provados e comprovados por todos os descontrolados incéndios, que ocorrem repetidamente, década após década, ano após ano, em todas as “Áreas de Proteção Ambiental”.
Os incêndios descontrolados ano após ano no Pantanal , para além das narrativas e pré conceitos disseminados, deixa óbvias consequências e rastros destrutivos demonstrando serem consequência da estupidez de acumular material vegetal combustível, sem nenhuma medida mitigadora ou EIA-RIMA, não sendo muito difícil compreender que, para os criadores pantaneiros, nem a onça ou qualquer outro animal nativo, tampouco o fogo jamais constituiriam bens naturais passíveis de serem monetizados ou meras mercadorias lucrativas.
A partir de fatos verdadeiros, pulso máximo de cheia em 1988 e pulso máximo de seca em 2024, infelizmente criou-se um sofisma falacioso ou uma falácia sofística mapeando o bioma, ao se esconder que tal “perda” de área inundada contraria a razão e a metodologia científica ao deixar de considerar pulsos múltiplas de seca e enchente anteriores para os validar estatisticamente.
Mesmo durante aquele histórico pulso de seca , esbanjava-se calado para franca navegação nos Rios Paraguai, Cuiabá e Taquari seja ao Norte até Cuiabá e Cáceres, a Oeste até Coxim e ao Sul até Porto Murtinho…
A única afirmação verdadeira é de que os rios da planície pantaneira estão assoreados ficando sujeitos a inundações catastróficas ou secas desérticas, rápida mudança climática regional a cada chuva, mercê também do assoreamento no Planalto, que produz rolamento desembestado de águas antes infiltradas lentamente e que alimentavam aquíferos subterrâneos.
Entende-se que um erro casual jamais deveria ser atribuído à malicia, se puder ser explicado pela ignorância, mas sua repetição, paralela com nova disseminação de negacionismo, escondendo conclusões científicas e criminosamente afirmando que a pecuária pantaneira em vez da neutralidade das emissões, as aumentou em 86% como consequência de “desmatamento”…
Verdadeira tentativa de estelionato esta maciça propaganda de desumanização da cultura tradicional pantaneira, custeada por Fundos Abutres pseudo ambientalistas, em busca de locupletar-se com o restabelecimento das companhias de privilégios régios comerciais, espoliando e expropriando terras, gentes e animais por antigo e devastador modelo colonial.
☆”As ONGs Onçafari e SOS Pantanal endereçaram uma carta à Unesco para inserir o Pantanal na lista de patrimônios mundiais em perigo. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS☆
O pantaneiro expõe humildemente que o Pantanal só passou a correr perigo na medida que as narrativas invertendo os malefícios destas desumanas ações higienistas conseguiram espaço no imaginário urbano:
1) A maciça cooptação internacional e nacional, cujos fabulosos fundos e gritaria histérica na midia, conseguem esconder até as conclusões tecnicamente isentas dos relatórios dos CBMs do MS e MT;
2) Subverter procedimentos aprovados e planejados no próprio ICMBIO, para evitar transformar Parques e RPPNs inviáveis ambientalmente em RDSs socialmente sustentáveis;
3) Manobras e “lobbies” para desvirtuar Leis e o consenso democrático nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dos Estados do Pantanal, visando impor a continuidade da agenda de ampliar o destrutivo modelo de “reservas e parques incendiários”…
Armando Arruda LacerdaHomenagem à Fazenda Sacramento Remanescente
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