Por João Arruda | Cáceres
O Rio Paraguai em Cáceres (a 210 km de Cuiabá), vem registrando um volume impressionante nos últimos dias. Somente nas 24 horas entre terça-feira (21.01) e esta quarta-feira (22.01), elevou-se em 36 centímetros, atingindo 4,28 metros.
Comparando com janeiro do ano passado, o Paraguai teve seu maior nível de 2,76 metros em todo o decorrer daquele mês. A projeção é que, nos próximos dias, a calha navegável supere o dobro dessa marca do ano anterior.
Com a elevação das águas, ressurgiu um fenômeno natural: a descida dos camalotes, que são plantas aquáticas tais como aguapés, capins, orelha-de-onça, entre outras, que, com a força das águas, desprendem-se das raízes, descendo o curso do Paraguai e o Pantanal, atraindo a atenção de várias pessoas.
Gravações em vídeo, em trechos como o Cais de Cáceres até a Ponte Marechal Rondon, mostram um extenso cordão verde na superfície da água que se movimenta de forma sincronizada, formando um verdadeiro “balé aquático” rumando ao sul.
Especialistas recomendam toda a cautela aos aquaviários, visto que essa vegetação transporta insetos e, principalmente, cobras peçonhentas em seu bojo.
Outra recomendação refere-se à segurança das lanchas, que devem evitar o contato com esses “balsas”, que podem esconder, na parte submersa, galhos e até árvores.
“O recomendado é observar, fotografar, mas evitar ao máximo o contato, independentemente do tamanho da vegetação que flutua”, observa o capitão Magno Luís de Moura, agente responsável pela Marinha do Brasil no município.
A Tapagem: História e estratégia na Guerra do Paraguai
Esses mesmos camalotes flutuantes foram empregados durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), quando o ditador Francisco Solano López enviou uma flotilha naval da Armada Paraguaia para tomar Vila Maria do Paraguai, atual Cáceres. Os moradores, sem forças para fazer frente ao exército de Solano López, aumentaram o volume de aguapés com foices e facões até entupir a Baía de Uberaba, a 300 quilômetros de Cáceres, impedindo a subida dos navios paraguaios. Além dessa estratégia, os pantaneiros “pelaram” um morro inteiro, que batizaram de Morro Pelado, nome que permanece até os dias atuais.
O segundo oficial na escala hierárquica de Solano López, Vicente Barrios, sentiu-se traído pelos dois índios guatós. Então, sem conseguir transpor a barreira aquática, optou por sacrificar os dois indígenas, decepando-lhes as orelhas, salgando-as e informando ao ditador. Na Baía da Gaíva, igualmente entupida por vegetação aquática, o Império Brasileiro criou um destacamento militar em referência aos dois guatós, local que até hoje se chama “Destacamento Militar de Porto Índio”. Em homenagem a esse feito, a cidade deu nome a uma das principais vias públicas da área urbana de Cáceres: a Rua da Tapagem, área comercial bastante valorizada.